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Ocupações estudantis no Rio de Janeiro

Com investimentos cada vez mais tirados da área da educação, a greve estadual dos professores do Rio de Janeiro era fato consumado. O que muitos não esperavam era que a paralização (que já dura 3 meses) ganharia apoio dos estudantes, com direito a ocupações nas escolas e na Seduc (Secretaria de Educação) pelos próprios, com apoio dos professores grevistas.

A primeira escola a ser ocupada foi o Colégio Mendes de Moraes, na Ilha do Governador, em março desse ano, culminando com mais de 70 escolas por todo o Estado. Em muitos desses espaços com um comando independente na organização, isto é, sem ligação com partidos.

Em uma grade curricular em que apenas é dado um tempo de aula por semana para as matérias de sociologia e filosofia, onde existe espaço para falar de política? Quem entende de política hoje correu atrás do prejuízo por conta própria, participou de coletivos, grupos de estudos, leu até não querer mais livros clássicos de formação de esquerda (Marx, Gramsci, etc.), comprados em um sebo qualquer. Ações, hábitos nada ligados a alguma intervenção direta dos governos federais ou estaduais, através de políticas públicas efetivas.

Para Annie Caroline Ferreira, estudante do C.E Prefeito Mendes de Moraes, de 17 anos, o programa atual das escolas com o chamado currículo mínimo “foi a pior coisa que inventaram, pois limita várias formas de aprendizagem e faz as pessoas crescerem sem muito conhecimento de mundo, apenas aprendendo coisas tolas”.

Annie Caroline em Ato Unificado pela Educação, em frente a ALERJ. I Foto: Bruna Freire

Annie Caroline em Ato Unificado pela Educação, em frente a ALERJ. I Foto: Bruna Freire

Na ocupação de seu colégio, que ela afirma ter participado assiduamente, a história é outra. Ela conta que aprendeu muito mais sobre política e outros temas relevantes para a vida social do que em doze anos de estudante de escola pública, através de debates e auto-organização estudantil independente. No começo, ela conta que partidos eram tolerados nas visitas, porém, com o passar do tempo, os alunos foram percebendo o verdadeiro interesse deles, apenas para levantar a bandeira e propagandear em cima da ocupação, e, por isso, passaram a não ser mais aceitos na proposição de atividades, por deliberação em assembleia. Alguns partidários continuaram frequentando a ocupação depois disso, mas não mais vinculados aos partidos.

Sobre o fim da ocupação, a estudante disse que o Colégio Mendes de Moraes foi o que mais sofreu repressão, e que ela e os outros integrantes desocuparam para manter a integridade física de cada participante. Para a estudante, a luta não acabou. “Pelo menos para mim, estou na Seduc e a luta não para nunca”, atesta contundentemente.

Uma amor pelo Brizolismo e a luta pela educação pública 

Roger Mc Naugth é repórter cinematográfico, tem 33 anos e acompanhou de perto a onda de ocupações estudantis que se alastrou pelo Rio de Janeiro. Sobre sua preocupação desde muito cedo com a educação no país, ele conta que na sua época de estudante optou pelo “brizolismo”, apesar de hoje ser apartidário.

Na época, ele militou pelo movimento estudantil do PDT. Já no final dos anos noventa, entrou para o movimento interno do PDT na luta por melhorias na campanha do CIEP (Centro Integrado de Educação Pública) o “Volta CIEP”. O movimento se intitulava valorizador da educação pública como formadora de seres pensantes, em período integral, com o objetivo de proporcionar educação, esportes, assistência médica, alimentos e atividades culturais variadas, em instituições colocadas fora da rede educacional regular.

“O que me motivou foi a doutrina educacional de valorização da educação das novas gerações que bem ou mal é uma solução sólida e definitiva a médio e longo prazo”, conta.

Sobre sua relação com o partido, ele afirma ainda que o seu foco de interesse não era o PDT em si, e sim um projeto educacional da legenda, implementado por Leonel Brizola. Quando o político faleceu, na opinião de Roger o projeto não estava sendo tocado da forma como era antes, então ele optou por sair da base do partido e nunca mais se filiou a outro.

“Quando ele (Brizola) faleceu, eu lembro, foi uma coisa muito triste: ele entrou no hospital, era umas quatro da tarde, passando mal e umas oito horas da noite estava morto. Foi um choque para todo mundo porque por mais que ele já fosse bem idoso ninguém se imaginava sem o ‘Briza’”, lamentou saudosamente

O repórter cinematográfico, hoje, afirma buscar pessoas que tenham um norte ideológico similar ao dele, não ligadas a partidos, para que juntos possam tocar algum projeto de cunho social, capaz de representar as classes menos favorecidas economicamente na sociedade, coisa que para ele a atual política partidária está bem distante, não merecendo de jeito nenhum o seu voto.

Vídeo cedido por Roger McNaught sobre a ocupação dos estudantes na Seduc:

Fotos: Banco de imagens

Brizolismo:

No contexto histórico, o termo pode significar tanto o legado político construído pelo líder partidário do PDT Leonel Brizola, incluindo seus seguidores e locais em que conquistou espaço político, quanto seus três períodos de governos estaduais:

No Rio Grande do Sul, de 1959 a 1963 e no Rio de Janeiro de 1983 a 1987 e de 1991 a 1994.

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