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A falta de representatividade política

Os anos 80 e 90 foram marcados pela ascensão dos partidos de esquerda. Essa é a percepção da professora do curso de jornalismo da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e ex-membro do Partido dos Trabalhadores, Ana Lúcia Vaz. Nessa época, os movimentos estudantis universitários eram muito marcados por partidos em sua maioria de esquerda. “Na Universidade ser chamado de ‘Direita’ era algum tipo de xingamento”, lembra a professora.

“Na Universidade ser chamado de ‘Direita’ era algum tipo de xingamento”

Ana conta que sua identificação com o Partido dos Trabalhadores (ainda nos anos 80) aconteceu pelo vislumbre de algo novo, mais interessante e democrático de acordo com as propostas de transformações sociais.

“O PT parecia o melhor caminho porque era um partido menos elitista, mais ligado aos movimentos sociais, [com] um funcionamento interno bastante democrático. Enquanto todos os partidos funcionavam – como parecem funcionar até hoje – as convenções dos partidos são só com os amigos e a direção do partido decide tudo. O PT era um partido em que as bases decidiam, tinham convenções locais, de forma que as decisões do partido vinham de baixo para cima.”

Andar sem fé

A direção passou a tomar a frente das campanhas políticas. No início, a militância era a grande plataforma eleitoral e isso passou a mudar na medida em que a dinâmica do partido começou a perder força.

A partir da campanha presidencial de 1998, quando a filial do Rio de Janeiro decidiu que teria como candidato Vladimir Palmeira, “a direção do partido obrigou o PT regional a apoiar a campanha do Anthony Garotinho”, relembra Ana Vaz.

“Naquela época eu cheguei a participar de algumas plenárias daqueles que queriam resistir a posição da direção do partido e eu me lembro até hoje de uma plenária que ouvi o Vladimir Palmeira falando, o Milton Temer falando e eu tive certeza que eu não tinha mais lugar”, relata a ex-partidária.

Foi em 2013, com a chegada das grandes manifestações, que o debate sobre a participação dos partidos em meio aos protestos trouxe essa discussão para ordem do dia. Ana Vaz expõe como essas discussões são feitas pelas diferentes representatividades e como isso afeta as pautas das manifestações.

 

A professora aponta também que a falta de identificação com partidos vem de uma mudança na busca por representatividade, os discursos na busca da política se tornaram individualistas e os movimentos sociais começaram a buscar a exclusão de representantes que carregam ideologias diferentes.

Uma crise de esquerda

Filho de pais que militaram contra a ditadura militar, Darlan Montenegro foi criado em um ambiente familiar ativista de esquerda. Com essa visão de mundo, a tradição levou Montenegro ainda no colégio secundarista a participar do grêmio estudantil, indo a passeatas e manifestações. Na universidade fez parte do centro acadêmico estudantil e, através dele, foi por duas vezes, presidente da executiva da União Nacional dos Estudantes (UNE). Lá dentro chegou à vice-presidência. Esse foi o início da história no Partido dos Trabalhadores (PT) que leva mais de 20 anos na bagagem de militância.

O ex-petista acredita que houve um descontentamento com as decisões neoliberais do PT, os projetos do partido passaram a promover uma máquina eleitoral, ficou longe do planejamento anterior que o Partido do Trabalhador Brasileiro (PTB) havia conquistado com luta e reivindicações. Montenegro, professor universitário de teoria política da UFRRJ, começou a discordar das ações do partido antes mesmo da primeira posse do ex-presidente Lula. Entretanto, a falta de representatividade em outro lugar fez com que permanecesse nominalmente sem participação ativa. Hoje, se aproxima do movimento Consulta Popular e acredita que o atual cenário da política brasileira trata-se de uma crise esquerdista.

Filmagem e edição: Kathellen Islyne

Filmagem: Bruna Veiga

Edição: Bruna Freire

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