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O ano era de 2002

Estrelas do PT eram vendidas como bottons em camelôs de diversos centros urbanos do país. A cena mais recorrente era a cor vermelha representando um sentimento de mudança geral. A esperança que emergia desse momento era notória para a população brasileira.

Pela primeira vez um integrante da classe trabalhadora, metalúrgico, de raízes nordestinas iria governar o país por meio de eleições diretas, direito duramente conquistado na famosa campanha “Diretas já”, que teve amplo apoio popular entre 1983 e 1984. Nunca se viu tanta representatividade emergir dos poros de quem ainda queria acreditar nos meios institucionais para lidar com a política.

Mesmo quem já tinha abandonado esse assunto, como se fosse apenas coisa “para especialistas” ou “iludidos”, voltou a fazer campanha, colar adesivo nos carros, distribuir panfletos por aí. Famílias e mais famílias eram vistas participando de comícios com um largo sorriso no rosto. O clima era de euforia inesperada até vir o maior escândalo de corrupção, no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2005, dois anos apenas após sua cerimônia de posse.

Foto: Bruna Freire

 

Com repercussão avassaladora, a crise que se instaurou teve início com a criação da “CPI do Correios” e tinha como intuito investigar denúncias de corrupção nas estatais, mais especificamente, nos Correios. No decorrer dessa investigação, após ser divulgada uma fita de vídeo em que mostra o ex-funcionário dos Correios, Maurício Marinho, sendo flagrado recebendo propina de empresários, outro esquema é descoberto. No vídeo, ele afirma estar tendo respaldo do então deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ).

Nova CPI é instaurada, na mesma época, dessa vez conhecida como CPI do “Mensalão”, termo adotado pela mídia para se referir ao esquema de compra  de votos de parlamentares, utilizado em entrevista dada por Roberto Jefferson à jornalista Roberto Lo Prete (hoje na Globo News), à época, editora de política, do jornal Folha de São Paulo, no dia 6 de junho. Acuado, o deputado contou detalhes do funcionamento do “Mensalão”. Dizia, com todas as letras, que Delúbio Soares (também à época tesoureiro do PT) pagava uma mensalidade de 30 mil reais para alguns deputados do Congresso Nacional votarem, seguindo a orientação do bloco governista (PT). Segundo Jefferson, o operador do mensalão seria o empresário Marcos Valério de Souza, cujas agências de publicidade SMP&B e DNA mantinham contratos de prestação de serviços com muitos órgãos públicos. Valério recebia depósitos destinados ao PT, o que servia de fachada para ocultar doações irregulares de campanha eleitoral. A divulgação dessa entrevista aprofundou a crise no governo Lula, despedaçando vários corações que mantinham do lado esquerdo do peito a famosa estrela vermelha do Partido dos Trabalhadores. 

As expectativas e o real governo do PT
 

Além dos escândalos de corrupção, a gerência de Lula deixou a desejar em suas tomadas de decisões e planos de governos que, em sua posse, possuía amplo apoio dos movimentos sociais, de parte da classe média e de setores do empresariado. Decisões difíceis em prol da classe trabalhadora tinham condições para serem tomadas e eram entusiasticamente esperadas por seus eleitores e o então presidente não as colocou em prática, como mudar a política econômica, colocada a serviço da dívida externa e seus juros, controlando a inflação e pagando a dívida interna; enfrentar e diminuir as causas da imensa desigualdade do país; adotar medidas visando a expansão do mercado interno de massas; gerar empregos, inclusive com a implementação de um plano nacional de habitação; entre outros, começaram a ser substituídas pelo medo de que o Brasil teria apenas o 'governo do possível'.

Como afirma a doutora em sociologia política Roseli Freitas, em artigo publicado pela revista “Scielo”, “a opção do governo Lula pela política econômica neoliberal, pela continuidade da política de FHC, foi sendo, durante o seu mandato, motivo de muitas críticas. A vulnerabilidade externa do Brasil permaneceu alta, sobretudo porque o país seguiu a receita do FMI e escolheu não estabelecer o controle dos fluxos de capital. Para satisfação dos investidores financeiros e risco da maioria do povo brasileiro”.

Pessoas que antes declaravam com orgulho serem integrantes da base do PT, filiadas ao partido, falam com desânimo dessa época. Frustradas, um número considerável delas hoje se dizem apartidárias, como se o PT tivesse sido, definitivamente, a última esperança para continuarem participando da lógica eleitoreira no país.

Campanhas que levantam bem alto a bandeira “Eleição é farsa!” ganham mais força a cada época de campanha eleitoral, tanto que, no Rio de Janeiro, o candidato eleito a governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) teve menos votos do que os brancos, nulos e abstenções, em 2014. 

Pezão ficou com 4.343.298 votos, o que corresponde a 55,78% das cédulas válidas. Marcelo Crivella (PRB) teve 3.442.713 dos votos (44,22). Votos brancos (3,39%) e nulos (13,96%) somaram 1.635.179. Houve ainda 2.713.771 abstenções (22,36%). Somados brancos, nulos e abstenções, chega-se a 4.348.950 votos, 5.652 a mais que os de Pezão.

As justificativas mais costumeiras se encontravam na falta de credibilidade das urnas eletrônicas, utilizadas nas eleições brasileiras há quase vinte anos. Hoje, somada a essa descrença, e as decepções após escândalos de corrupção envolvendo não só o Partido dos Trabalhadores, mas a maioria dos partidos do país, os questionamentos se aprofundaram e estão cada vez mais em evidência, sendo pilar de discussões políticas acaloradas que não vêm mais na instauração de novas eleições uma única saída possível para os problemas em questão. 

Além das pessoas que não votam explicitamente em candidatos de legendas específicas, há também uma grande parcela da população que vota no “menos pior”, o chamado “voto útil”, o que contribui para a deslegitimar ainda mais a representatividade do partido escolhido para governar.

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